"O Menino Selvagem"
Após a visualização de algumas cenas do filme (apresentadas no final do artigo), foi possível fazer reflexão acerca das atitutes, reacções, hábitos e por fim os progressos conseguidos pelo jovem depois de introduzido numa sociedade.
Esta reflexão levou a que tivessemos uma maior sensibilidade e conhecimento sobre o papel da hereditariedade e do mio no comportamento humano.
Este filme é baseado num caso verídico e relata a história de uma criança de onze/doze anos que foi capturada num bosque por caçadores, tendo vivido afastado da sua espécie, por abandono dos pais. Esta criança despertou então grande interesse num médico que pretendia estudar o processo de integração daquele menino que por tantos anos teria vivido como um selvagem.
Embora se pense que o menino selvagem tenha sido abandonado no bosque quando tinha quatro ou cinco anos, altura em que já deveria dispor de algumas ideias e palavras, em consequência do começo da sua educação, tudo isso se lhe apagou da memória devido a cerca de sete anos de isolamento. Quando foi capturado, andava como um quadrúpede, tinha hábitos anti-sociais, órgãos pouco flexíveis e a sensibilidade embotada, não falava, não se interessava por nada e a sua face não mostrava qualquer tipo de sensibilidade a ruídos bruscos que não conhecia, como o bater de uma porta. Toda a sua existência se resumia a uma vida puramente animal.
Assim, o seu isolamento passado condicionou a sua aprendizagem futura que, além do mais, deveria ter sido realizada durante a sua infância (época em que o seu cérebro apresentaria mais plasticidade, existindo uma facilidade de aprendizagem, socialização e interiorização dos comportamentos característicos da sua cultura).
Ainda assim com muito esforço, tanto por parte do menino selvagem como do Dr. Jean Itard, Victor consegue por fim cumprir hábitos sociais, como comer com talheres, viver consoante regras e deveres, dar o devido uso à roupa… Aprendeu também a desenvolver afectividade, o que foi considerado um grande progresso. Tornou-se sensível às temperaturas extremas, espirrou pela primeira vez e chorou. À medida que esta afectividade se foi desenvolvendo, a aprendizagem vai-se tornando mais fácil.
Por último, como já foi referido, os factores socioculturais também influenciam as nossas acções pois, ao estarmos inseridos numa sociedade, as nossas acções e comportamentos são influenciados por ela, como se verificou com a socialização do menino selvagem, que teve de se sujeitar a regras e a deveres morais.
Contudo, e apesar de todos os progressos, a linguagem foi algo que não conseguiu adquirir. Victor conseguiu pronunciar a palavra “lait” (leite) e até mesmo escrevê-la, mas não foi dada muita importância a esta aprendizagem uma vez que não era utilizada para mostrar uma necessidade, mas sim uma espécie de exercício preliminar, que precedia espontaneamente à satisfação dos seus apetites. Podemos então concluir deste clássico de grande sucesso em todo o mundo, que é necessário “admitir que os homens não são homens fora do ambiente social” (Lucien Malson) e que necessitam, mais do que os outros animais, da vivência junto da espécie.