Hereditariedade vs. Meio

O comportamento humano depende de múltiplos factores que interagem desde a fecundação até à morte. Ao longo da História sucedem-se diferentes concepções: umas afirmam o predomínio da hereditariedade, outras, o predomínio dos factores decorrentes do meio. 

Para se compreender melhor o papel da hereditariedade na determinação de características biológicas e comportamentais

, deve distinguir-se hereditariedade específica (que caracteriza uma espécie) e hereditariedade individual (exclusiva de cada sujeito de cada espécie). Pode afirma-se assim que todos temos a mesma hereditariedade específica – que nos torna humanos

 – e todos temos diferente hereditariedade individual – o que nos torna únicos.

A referência ao genótipo e fenótipo é de importante relevância neste tema, para que possamos entender a grande interacção hereditariedade-meio. O genótipo corresponde ao conjunto de genes que cada indivíduo herda do seu progenitor. O fenótipo é o conjunto de características observáveis num individuo, que resulta da interacção do genótipo com o meio ambiente onde ocorre o desenvolvimento. A pessoa é, assim, resultado de uma história em que se interligam factores hereditários e ambientais. “A complexidade do que somos deriva do potencial herdado e dos efeitos do meio” (MONTEIRO, M.

 2008). As potencialidades genéticas que o indivíduo tem aquando do nascimento são desenvolvidas pela interacção com o ambiente, que se inicia a partir da concepção, na sua génese intra-uterina. Esta concepção (período crítico – desenvolvimento pré-natal) é determinte para o desenvolvimento do indivíduo, visto que a saúde física e emocional da mãe pode afectar o desenvolvimento fetal. Por exemplo, o facto do uso de drogas, álcool e tabaco, leva a que o aparecimento de diversas doenças (toxoplasmose, rubéola, etc) seja mais provável.

Após estar alargada a visão em relação a esta grande controvérsia, são agora apresentados alguns estudos de diferentes autores.

 

Henry Herbert Goddard  (1866-1957) um distinguido  psicólogo do século XX, ficou especialmente conhecido pelo seu trabalho de 1912 “A família Kallikak: Um estudo sobre a herança da debilidade mental” e por ser o primeiro a traduzir o teste de inteligência (QI) de Alfred Binet. Era um grande defensor do uso dos testes de inteligência nas instituições sociais, incluindo os hospitais e escolas. Desempenhou um papel principal no emergente campo da psicologia clínica, em 1911 ajudou a redigir a primeira lei dos Estados Unidos que proporcionava educação

especial em escolas públicas para surdos, cegos e atrasados mentais. Foi o primeiro psicólogo americano a testemunhar em tribunal que a “inteligência subnormal” deve limitar a responsabilidade penal dos arguidos.

No seu principal estudo, “A família Kalliak”, Goddard concluiu que toda a variedade de características mentais eram hereditárias e que era importante para a sociedade criar uma verificação sobre a reprodução de indivíduos "inaptos".

 

 

Charles Davenport (1866-1944) tornou-se diretor do Cold Spring Harbor Laboratory , em 1910, onde fundou

 o “Eugenics Record Office. Começou a estudar a hereditariedade humana e muito do seu esforço virou-se mais tarde para o estudo da eugenia (“bem-nascidos”). Isto é, o estudo e a prática da reprodução selectiva aplicada aos seres humanos, com o objectivo de melhorar a espécie. O seu livro de 1911, “Hereditariedade em relação à eugenia”, foi usado como um livro de faculdade durante vários anos. Defende também que a histeria, a cegueira nocturna e a histeria, são originadas por causas genéticas. A

 eugenia foi amplamente popular nas primeiras décadas do século XX, mas em grande parte caiu em

 descrédito depois de ter se associado nazismo alemão.

 

 

Exemplo:

Uma das formas de estudar estes dois factores é analisar dois gémeos verdadeiros, pois terão traços de carácter mais idênticos do que outro tipo de irmãos. Estes traços são os que provavelmente aparecem na herança da hereditariedade. Os gémeos criados por famílias distintas em meios diferentes adquiriram ao longo da vida uma diferença substancial de comportamentos. Com toda a certeza que uma criança gémea sorrirá com muita frequência se o meio ambiente e a família aonde

 está a ser criada é calma, e lhe responde sempre com boas palavras e sorrisos, reforçando então a disposição alegre da criança. Se o gémeo desta criança estiver integrada numa família onde reine um ambiente demasiado repressivo e protector, se calhar ele não sorrirá tão frequentemente. Isto significa que nós estamos sujeitos a experiências diárias que podem modificar o nosso temperamento e carácter.